Em nenhuma outra cidade brasileira encontram-se registros tão profundos e abrangentes de uma cronologia histórica do patrimônio edificado urbano como na cidade do Salvador, desde os primórdios da colonização brasileira até as suas contemporâneas manifestações.
Vista do Morro Ipiranga |
Seus primeiros edifícios, públicos e privados, religiosos ou profanos, de moradia ou de comércio, foram singelos, desprovidos de apuro arquitetônico e sentido de perenidade. Notadamente, a Sé-primaz do Brasil, sob a invocação de N. S. da Ajuda, a Capela de N. S. Conceição da Praia, bem como o Paço dos Governadores e a Casa da Câmara e Cadeia, foram produto do barro moldado, da taipa de mão e de pilão, do teto de palha, tão distantes da monumental cantaria portuguesa, d´além-mar.A cal, resultante da queima de crustáceos na Ilha de Itaparica, a partir de 1551; o arenito proveniente de Boipeba; o lioz português que servia de lastro nas embarcações e a madeira-de-lei da Mata Atlântica foram conquistando, pouco a pouco, os canteiros de obras que se multiplicavam na construção da metrópole.
Vista do Rio Vermelho |
Iconografias e relatos nos dão conta da precariedade dos edifícios, públicos e privados, só superada após as sucessivas tentativas de invasão da cidade por parte dos holandeses (1599-1649), quando a estabilidade política e a prosperidade econômica permitiram o desenvolvimento de um padrão arquitetônico monumental, português por excelência, com a importação de projetos, mão-de-obra e materiais necessários ao vultoso empreendimento.
Farol de Santo Antônio da Barra |
A arquitetura religiosa ganhou em requinte e monumentalidade na 2ª metade do século XVII. As ordens religiosas aqui instaladas no século XVI foram Jesuítas (1549), Beneditinos (1585), Carmelitas (1586) e Franciscanos (1587). A Santa Casa de Misericórdia e o Clero Secular (Arquidiocese Primaz, 1551), por sua vez, construíram novas sedes ou ampliaram as suas primitivas, adaptando-se à nova configuração conjuntural.O monge beneditino Frei Macário de São João foi o autor de inúmeros projetos, os mais expressivos do seu tempo, como a Igreja e Mosteiro de São Bento, Igreja e Convento de Santa Tereza, Igreja e Hospital da Santa Casa de Misericórdia, além da Casa de Câmara e Cadeia.
Vista do Largo do Pelourinho - 1860 |
Destaca-se, também, o Convento de N. S. do Desterro, 1º edifício de ordem religiosa na América portuguesa, construído para as irmãs Clarissas administrarem o destino das moças solteiras da soterópolis, patriarcalista e castradora.
A arquitetura civil de função pública teve os seus melhores exemplos na Casa da Câmara e Cadeia (1660), no Paço dos Governadores (1663), na sede da alfândega (cidade-alta), nos prédios assobradados com amplos salões - onde o mobiliário luso-brasileiro começava a apresentar sinais de uma prosperidade precursora do seu apogeu no século XVIII.Os solares, residências senhoriais, mostravam o seu vigor no panorama urbano, tendo a "loja", no plano térreo, e o pavimento "nobre" superior conectados por imponente saguão e escadaria.
São vários os exemplos deste período, com pátio central, azulejos portugueses no seu interior, forros em caixotões, portas almofadadas, janelas com postigo, sacadas com os muxarabies, beirais encornijados (tipo "beira-soleira" ou encachorrados), portadas em cantaria, brasonadas ou dotadas, sobrelojas ou entressolhos, alcovas, chaminés, cocheiras e capelas particulares.
Ladeira de São Bento - 185 |
Este período configurou uma imagem urbana com exponência monumental, entremeada pela singeleza de uma arquitetura vernacular, distribuída em lotes urbanos estreitos, ao longo de becos e ladeiras
O século XVIII foi o século do ouro, do apogeu econômico, do barroco e do rococó, da supremacia da Igreja Católica, do Vice-Reinado (1714), da expulsão dos Jesuítas (1759) e da mudança da capital para o Rio de Janeiro (1763).
Praça da Piedade - 1861 |
Igreja do Nosso Senhor do Bomfim - 1860 |
Catedral Basílica - 1859 |
Vista do Porto da Barra |
Paço Municipal - 1860 |
O mobiliário apresentava-se requintado, em madeira-de-lei (jacarandá e vinhático) e de influência lusitana. Os serviços domésticos dependiam diretamente do trabalho escravo, não havendo infra-estrutura sanitária.
As famílias eram numerosas e pródigas em agregados e a vida social girava em torno das celebrações e compromissos religiosos. A cidade era insalubre, com a maioria das ruas sem pavimentação, deslizamento de terra nas encostas, hortas plantadas nos vales onde eram despejados os dejetos urbanos, sem transporte público, com a predominância dos negros nas ruas, palco para punições (pelourinho e forca) e manifestações lúdicas.O comércio era próspero (importações e exportações) e a Baía de Todos os Santos, pontilhada de embarcações a vela (naus e saveiros), com o porto em franca expansão (aterros para construção dos trapiches).
Mercado Modelo - 1860 |
O século XIX foi revolucionário e transformador. Revolucionário no campo das idéias e transformador do ponto de vista social e urbano. Os reflexos da Revolução dos Alfaiates (1798), a chegada da família real (1808), a abertura dos portos (1808), a assinatura do 1º tratado de comércio com a Inglaterra (1810), a criação do Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia (1810), a independência do Brasil (1822), a independência da Bahia (1823), a Revolta dos Malês (1835), a fundação da primeira casa bancária (1834), o gradativo processo de industrialização, a gradativa abolição da escravatura e a Lei Áurea (1888), a crise econômica que se abateu em função da seca (1870-1877), a gradativa separação Igreja/Estado (1873-1891), a implantação de serviços públicos (a partir de 1850) e a Proclamação da República (1889) foram fatores fundamentais na transformação do panorama urbano da cidade do Salvador ao longo do século XIX.
Campo Grande - 1870 |
Elevador Lacerda - 1875 |
Passeio Público - 1875 |
Associação Comercial da Bahia - 1870 |
Associação Comercial da Bahia - 1879 |
A cidade do Salvador reúne um rico e vasto acervo desse período, quando a sua população cresceu de 45 mil para 180 mil habitantes, aproximadamente, no decorrer do século, ocupando as cumeadas radiais ao centro histórico, ao longo do século XVIII.
Largo da Mariquita - Rio Vermelho - 1890 |
Fonte:http://www.achetudoeregiao.com.br/ba/Salvador/Historia.htm
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